Efectivo
Existem duas áreas geográficas bem definidas, quer em acidentes orográficos, quer nas condições edafo-climáticas. Assim, o Minho, de constituição granítica apresenta-se bastante cortado por vales profundos delimitando serras, em que as vertentes geralmente abruptas, dão passagem a extensos planos largos e bem desenvolvidos. O seu conjunto verifica-se que as serras minhotas vão aumentando de altitude do litoral (serra de Arga, 816 m) para o interior (serra da Peneda, 1373 m; serra Amarela, 1361 m; serra do Gerês, 1431 m; serra da Cabreira, 1256 m) originando o tão característico anfiteatro minhoto. Por seu lado, o Barroso de constituição granítico-xistosa, uma região essencialmente montanhosa e planáltica tem na serra das Alturas (1279 m), com os seus "cotos" graníticos, e a serra do Larouco (1525 m), as elevações mais pronunciadas.
clique sobre a imagem para ampliar
Estas duas regiões ligam-se da serra do Larouco para a do Gerês por uma linha de picos de 1200 a 1300 m que corre ao longo da fronteira.
Não podemos deixar de destacar, ao observar o maior desenvolvimento somático da raça no seu solar e também no concelho de Paredes de Coura, a participação positiva que lhe teria dado a composição geológica planáltica dos solos, que em Paredes de Coura apresenta solos derivados de rochas do complexo xisto-grauváquico e o Barroso com granitos porfiróides e rochas metamorfisadas (gnaisses, migmatitos e xistos). No Minho os solos que derivam dos granitos são geralmente de textura ligeira (francos, franco-arenosos ou areno-argilosos), bastante permeáveis, pouco profundos e facilmente trabalháveis, são deficientes, essencialmente, em fósforo, magnésio, cálcio, e razoavelmente providos de potássio, sais de ferro e alumínio, pelo que se justifica o elevado grau de acidez que apresentam. No Barroso os solos são pouco profundos, de textura ligeira, e escuros, de elevada acidez e ricos em matéria orgânica, devido a grandes incorporações de estrumes de origem animal e vegetal.
A origem da raça perde-se na ancestralidade dos tempos sendo o seu solar, o Barroso, constituído pelos concelhos de Montalegre e Boticas, as freguesias de Campos e Ruivães de Vieira do Minho e a freguesia de Gondiães de Cabeceiras de Basto; expandiu-se de tal forma que descendo o anfiteatro minhoto chega a ocupar os concelhos do litoral norte até ao Porto. Este foi o seu período áureo que coincide com a exportação, pela barra do Douro, de bois adultos e castrados, que depois de engordados, eram vendidos para Inglaterra. Hoje é incluída nas raças em vias de extinção, isto é, com menos de 7.500 animais em produção.
O declínio da raça deveu-se, no seu solar, a vários factores, nomeadamente: a expansão da cultura de batata semente e consequente exigência de trabalho animal; melhor condição dinamófora da raça Mirandesa; maior estatura e precocidade do Mirandês o que faz aparecer os cruzamentos e a consequente heterose ou vigor híbrido. Com a Mirandesa aparece outra raça, a Maronesa, não havendo ainda hoje casa de lavoura tradicional que não tenha uma junta de bois castrados maroneses para fazer os trabalhos agrícolas.
Na região de Entre-Douro e Minho, no distrito do Porto e no litoral, as fêmeas foram substituídas pelas vacas turinas e os bois foram substituídos, também por novilhos turinos, de mais rápido desenvolvimento, prática esta iniciada nos concelhos de Lousada, Paredes e Penafiel e que alastrou até ao litoral. A redução drástica do número de bois de trabalho dá-se com a introdução e vulgarização da mecanização agrícola.
clique sobre a imagem para ampliar
Hoje verifica-se um retorno às origens, sendo os limites da raça os concelhos de Montalegre e Boticas, no distrito de Vila Real; os concelhos de Amares, Braga, Cabeceiras de Basto, Celorico de Basto, Fafe, Guimarães, Póvoa de Lanhoso, Terras de Bouro, Vieira do Minho e Vila Verde, do distrito de Braga; os concelhos de Arcos de Valdevez, Melgaço, Monção, Paredes de Coura, Ponte da Barca, Ponte de Lima e Valença, do distrito de Viana do Castelo; e os concelhos de Felgueiras e Paços de Ferreira, do distrito do Porto. Podem-se, ainda, encontrar alguns exemplares da raça Barrosã em explorações agrícolas nos concelhos de Ribeira de Pena, do distrito de Vila Real; Santo Tirso, do distrito do Porto; Vila Nova de Famalicão, Barcelos e Esposende, do distrito de Braga; Vila Nova de Cerveira, do distrito de Viana do Castelo; e Sertã, do distrito de Viseu.
O censo verificado entre 1926 e 1959 e 1976 há uma queda drástica no efectivo masculino de 50% agravada de 1976 a 1999 que já não é de 50% mas sim de quase 100%; esta recessão tão grande no efectivo masculino, representado pelos bois castrados, equivale à sua quase total substituição pela mecanização. Os trabalhos agrícolas hoje são feitos por juntas de vacas que melhor rentabilizam as explorações.
|
1870 a
|
1926 b
|
1940 c
|
1959 d
|
1976 d
|
2012 e
|
Distritos
|
M
|
F
|
M
|
F
|
Total
|
M
|
F
|
M
|
F
|
M
|
F
|
Braga
|
31.121
|
15.724
|
33.062
|
41.699
|
98.694
|
29.601
|
67.376
|
18.019
|
49.409
|
183
|
2.820
|
Porto
|
43.176
|
99.946
|
52.245
|
26.908
|
35.446
|
14.450
|
5.994
|
865
|
1.285
|
2
|
13
|
Viana Castelo
|
17.767
|
14.199
|
17.736
|
38.590
|
72.289
|
9.799
|
43.297
|
6.194
|
34.005
|
80
|
2.769
|
Vila Real
|
10.237
|
14.632
|
-
|
-
|
17.633
|
1.220
|
10.290
|
570
|
4.010
|
168
|
1.361
|
Total
|
102.301
|
144.501
|
103.043
|
107.167
|
224.062
|
55.070
|
126.957
|
25.648
|
88.709
|
433
|
6.963
|
Fontes:
a - Silvestre Bernardo Lima (1873)
b - Amorim (1928)
c - Direcção Geral dos Serviços Pecuários (1940)
d - Garcia et. al. (1981)
e - AMIBA (2013), animais registados no Livro Genealógico
A variação negativa do efectivo feminino entre 1976 e 2012 é cerca de 92%. A recessão observada na raça nos últimos anos deve-se em primeiro lugar ao êxodo das populações rural e consequente abandono das explorações agrícolas; à mecanização agrícola; à substituição por raças de aptidão leiteira; introdução de novas culturas; à florestação e ao envelhecimento da população rural. Hoje nota-se uma estabilização dos efectivos, devido principalmente aos prémios pagos à produção, nomeadamente às medidas Agro-Ambientais, indemnizações compensatórias e prémio às vacas aleitantes.